samedi 22 décembre 2007

A procura de uma dignidade - A la recherche d’une dignité






A Sra. Jorge B. Xavier simplesmente não saberia dizer como entrara. Por algum portão principal não fora. Pareceu-lhe vagamente sonhadora ter entrado por uma espécie de estreita abertura em meio a escombros de construção em obras, como se tivesse entrado de esguelha por um buraco feito só para ela. O fato é que quando viu estava dentro.

E quando viu, percebeu que estava muito, muito dentro. Andava interminavelmente pelos subterrâneos do Estádio do Maracanã ou pelo menos pareceram-lhe cavernas estreitas que davam para salas fechadas e quando se abriam as salas só havia uma janela dando para o estádio. Este, àquela hora torradamente deserto, reverberava ao extremo sol de um calor inusitado que estava acontecendo naquele dia de pleno inverno.

Então a senhora seguiu por um corredor sombrio. Este a levou igualmente a outro mais sombrio. Pareceu-lhe que o teto dos subterrâneos eram baixos.

E aí este corredor a levou a outro que a levou por sua vez a outro.

Dobrou o corredor deserto. E aí caiu em outra esquina. Que a levou a outro corredor que desembocou em outra esquina.

Então continuou automaticamente a entrar pelos corredores que sempre davam para outros corredores. Onde seria a sala da aula inaugural? Pois junto desta encontraria as pessoas com quem marcara encontro. A conferência era capaz de já ter começado. Ia perdê-la, ela que se forçava a não perder nada de cultural porque assim se mantinha jovem por dentro, já que até por fora ninguém adivinhava que tinha quase 70 anos, todos lhe davam uns 57.

Mas agora, perdida nos meandros internos e escuros do Maracanã, a senhora já arrastava pés pesados de velha.

Foi então que subitamente encontrou num corredor um homem surgido do nada e perguntou-lhe pela conferência que o senhor disse ignorar. Mas esse homem pediu informações a um segundo homem que também surgira repentinamente ao dobramento do corredor.

Então este segundo homem informou que havia visto perto da arquibancada da direita, em pleno estádio aberto, “duas damas e um cavalheiro, uma de vermelho”. A Sra. Xavier tinha dúvida de que essas pessoas fossem o grupo com quem devia se encontrar antes da conferência, e na verdade já perdera de vista o motivo pelo qual caminhava sem nunca mais parar. De qualquer modo seguiu o homem para o estádio, onde parou ofuscada no espaço oco de luz escancarada e mudez aberta, o estádio nu desventrado, sem bola nem futebol. Sobretudo sem multidão. Havia uma multidão que existia pelo vazio de sua ausência absoluta.

As duas damas e o cavalheiro já haviam sumido por algum corredor?

Então o homem disse com desafio exagerado:

— Pois vou procurar para a senhora e vou encontrar de qualquer jeito essa gente, eles não podem ter sumido no ar.

E de fato de muito longe ambos os viram. Mas um segundo depois tornaram a desaparecer. Parecia um jogo infantil onde gargalhadas amordaçadas riam da Sra. Jorge B. Xavier.

Então entrou com o homem por outros corredores. Aí este homem também sumiu numa esquina.

A senhora já desistira da conferência que no fundo pouco lhe importava. Contanto que saísse daquele emaranhado de caminhos sem fim. Não haveria porta de saída? Então sentiu como se estivesse dentro de um elevador enguiçado entre um andar e outro. Não haveria porta de saída?

Então eis que subitamente lembrou-se das palavras de informação da amiga pelo telefone: “fica mais ou menos perto do Estádio do Maracanã.” Diante dessa lembrança entendeu o seu engano de pessoa avoada e distraída que só ouvia as coisas pela metade, a outra ficando submersa. A Sra. Xavier era muito desatenta. Então, pois, não era no Maracanã o encontro, era apenas perto dali. No entanto o seu pequeno destino quisera-a perdida no labirinto.

Sim, então a luta recomeçou pior ainda: queria por força sair de lá e não sabia como nem por onde.

E de novo apareceu no corredor aquele homem que procurava as pessoas e que de novo lhe garantiu que as acharia porque não podiam ter sumido no ar. Ele disse assim mesmo:

— As pessoas não podem ter sumido no ar!

A senhora informou:

— Não precisa mais se incomodar de procurar, sim? Muito obrigada, sim? Porque o lugar onde preciso encontrar as pessoas não é no Maracanã.

O homem parou imediatamente de andar para olhá-la perplexo:

— Então que é que a senhora está fazendo aqui?

Ela quis explicar que sua vida era assim mesmo, mas nem sequer sabia o que queria dizer com o “assim mesmo” nem com “sua vida”, nada respondeu. O homem insistiu na pergunta, entre desconfiado e cauteloso: que é que ela está fazendo ali? Nada respondeu apenas em pensamento a senhora, já então prestes a cair de cansaço. Mas não lhe respondeu, deixou-o pensar que era louca. Além do mais ela nunca se explicava. Sabia que o homem a julgava louca – e quem dissera que não? pois não sentia aquela coisa que ela chamava de “aquilo” por vergonha? Se bem que soubesse ter a chamada saúde mental tão boa que só podia se comparar com sua saúde física. Saúde física já agora arrebentada pois rastejava os pés de muitos anos de caminho pelo labirinto. Sua via crucis. Estava vestida de lã muito grossa e sufocava suada ao inesperado calor de um auge de verão, esse dia de verão que era um aleijão do inverno. As pernas lhe doíam doíam ao peso da velha cruz. Já se resignara de algum modo a nunca mais sair do Maracanã e a morrer ali de coração exangue.
(...)


_____________________


Fonte: LISPECTOR, Clarice. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, p. 7-11

Mme Jorge B. Xavier aurait été bien incapable de dire comment elle était entrée. Certainement pas par le portail principal. Il lui semblait être passée comme en un rêve par une sorte d’ouverture exiguë parmi les gravats d’un chantier de construction, s’être comme faufilée de biais dans un trou creusé exprès pour elle. Le fait est qu’elle ne reprit ses esprits qu’une fois à l’intérieur.

Et quand elle eut repris ses esprits elle constata qu’elle se trouvait e effet très à l’intérieur. Elle avançait dans les interminables souterrains du stade de maracanã qui lui firent l’effet de cavernes étroites, débouchant sur des salles aveugles ou munies d’une unique fenêtre donant sur le stade. Celui-ci, torride et déset à cette heure, réverbérait sous un soleil intense une chaleur inhabituelle pour un jour de plein hiver.

La dame s’engagea alors dans un corridor sombre qui la conduisit vers un autre, plus sombre encore. Il lui sembla que ces galeries souterraines étaient bien basses de plafond.

Le nouveau corridor la mena à un autre et celui-ci à un autre.

Le corridor vide marqua un coude. Ce coude franchi, la dame tomba sur un autre tournant. Qui la mena vers un autre corridor qui présentait un nouveau coude.

Comme une automate la dame s’engageait docilement dans des corridors qui menaient inexorablement à d’autres corridors. Où se trouvait donc la salle où devait avoir lieu le cours inaugural ? C’était devant cette salle qu’elle devait retrouver les personnesavec qui elle avait rendez-vous. La conférence avait peut-être déjàcommencé. Elle allait la rater, elle qui se faisait un devoir de ne manquer aucun évément culturel, ainsi se maintenant-elle jeune, de l’intérieur, puisque à la voir, personne ne devinait qu’ele avait presque soixante-dix ans, on lui en donnait plutôt dans les cinquante-sept.

Mais maintenant qu’elle était égarée dans les méandres souterrains et obscurs du Maracanã, la dame traînait des pieds de plomb, des pieds de vieille.

Alors soudain, elle rencontra dans un corridor un homme surgi du néant qu’elle questionna sur la conférence. L’homme répondit qu’il n’était pas au courant mais il se renseigna auprès d’un deuxième homme, surgi subitement, lui aussi, au détour du corridor.

Ce deuxième individu déclara qu’il avait aperçu, au pied des gradins de droite, en plein stade, à ciel ouvert, «deux dames et un monsieur, une des dames étant vêtue de rouge». Mme Xavier se demandait s’il s’agissait bien des personnes qu’elle était censée rencontrer avant la conférence et, à vrai dire, elle ne savait plus trop pourquoi elle avait tant déambulé. Elle suivit pourtant l’homme jusqu’à la piste où elle s’arrêta net, éblouie par cet espace vide dans lequel déferlait la lumière muette, stade mis à nu, éventré, sans ballon ni match de football. Et surtout sans foule. La foule pourtant était présente, convoquée par le vide, surgie de cette absence absolue.

Où étaient donc les deux dames et le monsieur? Avaient-ils disparu dans quelque corridor?

Sur un ton de défi outrancier l’homme dit alors :

— Oh, mais je vais aller à la recherche de ces gens et je finirai bien par vous les dénicher, ils ne peuvent pas s’être évanouis dans les airs.

Et de fait tous deux les aperçurent dans le lointain. Une seconde plus tard le groupe avait de nouveau disparu, on eût dit un cache-cache enfantin, un fou rire muselé émanait d’ailleurs de Mme Jorge B. Xavier.

Laquelle s’engagea avec l’homme dans d’autres corridors. Et soudain, il s’évapora lui aussi à un détour du corridor.

La dame avait définitivement renoncé à la conférence dont, au fond, elle se moquait pas mal. Tout ce qu’elle souhaitait maintenant c’était sortir de cet enchevêtrement de couloirs sans fin. N’y avait-il pas, quelque part, une porte de sortie ? Elle se sentit comme à l’intérieur d’un ascenseur arrêté entre deux étages. N’y avait-il pas de porte de sortie?

Alors, soudain, elle se souvint d’un renseignement donné par son amie au téléphone : «Cet endroit n’est pas très loin du stade de Maracanã». Elle comprit aussitôt sa méprise, propre à une personne étourdie et distraite qui n’entendait les choses qu’à moitié, le reste tombant dans le vide. Mme Xavier était extrêmement inattentive. Il lui apparaissait maintenant que le rendez-vous n’était pas au stade même, mais dans son voisinage. Or son destin chétif avait voulu qu’elle s’égarãt dans le labyrinthe.
Sa lutte n’en reprit qu’avec plus d’acharnement : la dame voulait coûte que coûte sortir de là mais, comment, par où, elle ne le savait pas. Réapparut dans le corridor l’homme parti à la recherche du groupe, qui, de nouveau, lui jura qu’il retrouverait ces gens parce qu’ils ne pouvaient pas s’être évanouis dans les airs. Ce furent ses paroles exactes :

— Ces gens ne peuvent pas s’être évanouis dans les airs!

Mais la dame déclara :

— Il est inutile que vous fatiguiez à les chercher plus longtemps. Je vous remercie beaucoup. Voyez-vous, l’endroit où je dois rencontrer ces gens n’est pas le Maracanã.

L’homme s’arrêta net et la regarda, perplexe :

— Mais alors, que faites-vous ici?

La dame voulut expliquer que sa vie était toujours comme cela, mais elle ne savait pas ce qu’elle entendait par «toujours comme cela» ou par «sa vie», et elle ne répondit pas. Pris entre le soupçon et la discrétion l’homme insista sur sa question : que faisait-elle là ? Rien, rétorqua in petto la dame, prête maintenant à s’écrouler de fatigue. Mais elle ne lui répondit rien, le laissant penser qu’elle était folle. D’ailleurs elle ne donnait jamais d’explications. Elle se rendait compte que l’homme le prenait pour une cinglée – et qui pourrait affirmer qu’elle n’en était pas une ? N’était-elle pas la proie de cette chose que, pudiquement, elle appelait «cela» ? Elle se savait pourtant en possession d’une santé mentale aussi solide que sa santé physique. Santé physique à présent bien compromise, la dame ne pouvait presque plus soulever ses pieds épuisés d’avoir cheminé de si longues années dans le labyrinthe. Elle avait eu son chemin de croix. Vêtue d’une robe de laine très épaisse, elle suffoquait et transpirait dans la chaleur inattendue de cet apogée d’un été, de cette journée estivale qui était en fait une difformité de l’hiver. D’avoir tant porté sa vieille croix, ses jambes lui faisaient mal. Elle s’était en quelque sorte résignée à ne plus jamais sortir du Maracanã, et à mourir là, d’un cœur exsangue.
(...)






_______________________

Fonte: LISPECTOR, Clarice. Où étais-tu pendant la nuit ? Traduit du brésilien par Geneviève Leibrich et Nicole Biros. Paris, Des Femmes, 1985, p. 9-13.


mardi 6 novembre 2007

NEW ORDER - Bizarre Love Triangle












Chaque fois que je pense à toi,
Je me sens complètement
anéantie par un coup de blues
Ce n'est pas mon problème
mais c'est un problème que je trouve,
En vivant une vie
que je ne peux pas laisser derrière.
Ca n'a aucun sens de me dire:
“Que la sagesse d'un imbécile
ne va pas te libérer.

Mais, c'est comme ça
que ça marche,
Chaque fois que

Je te vois en train de tomber,
Je m'agenouille et je prie.
J'attends ce moment final,
Où tu diras
les mots que je ne peux pas dire.

Je me sens bien, je vais bien
Je me sens
comme je ne devrais jamais.
Toutes les fois que je prends ce chemin
je ne sais pas quoi dire
Pourquoi ne pouvons-nous pas être
nous-mêmes
comme nous l'étions hier?

Je ne suis pas sûre
de ce que cela peut signifier.
Je ne crois pas que tu sois
ce que tu sembles être.
Je me suis fait comprendre
à moi-même,
Que si je blessais
quelqu'un d'autre,
Alors nous ne verrons jamais
ce que nous sommes censés être.


Toda vez que penso em você
Eu sinto passar por mim
um raio de tristeza
Não é um problema meu,
mas é um problema que encontrei
Vivendo uma vida
que não consigo deixar para trás
Não faz sentido dizer-me:
"A sabedoria de um tolo
não lhe tornará livre"

Mas é assim que as coisas são
E o que ninguém sabe
É que fico mais confusa a cada dia

Toda vez que vejo você caindo
Eu fico de joelhos e rezo
Estou esperando pelo momento final
Que você dirá
as palavras que não posso dizer

Estou bem, eu me sinto bem
Sinto-me como nunca
deveria me sentir
Sempre que fico assim,
Apenas não sei o que dizer
Porque não podemos ser
nós mesmos
como fomos ontem?

Não tenho certeza
do isso pode significar
Não acho que você
é o que parece
E admito
para mim mesmo
Que se eu machucar
outra pessoa
Então nunca verei apenas
o que éramos pra ser.


mardi 25 septembre 2007

Le Petit prince - Antoine de Saint Exupéry








C'est alors qu'apparut le renard.

- Bonjour, dit le renard.
- Bonjour, répondit poliment le petit prince, qui se tourna mais ne vit rien.
- Je suis là, dit la voix, sous le pommier.
- Qui es-tu? dit le petit prince. Tu es bien joli…
- Je suis un renard, dit le renard.
- Viens jouer avec moi, lui proposa le petit prince. Je suis tellement triste…
- Je ne puis pas jouer avec toi, dit le renard. Je ne suis pas apprivoisé
- Ah! Pardon, fit le petit
prince.

Mais après réflexion, il ajouta:

- Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?
- Tu n'es pas d'ici, dit le renard, que cherches-tu?
- Je cherche les hommes, dit le petit prince. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?
- Les hommes, dit le renard, ils ont des fusils et ils chassent. C'est bien gênant! Il élèvent aussi des poules. C'est leur seul intérêt.
Tu cherches des poules?

- Non, dit le petit prince. Je cherche des amis.Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?
- C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ca signifie "Créer des liens…"
- Créer des liens?
- Bien sûr,dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'a pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde…

- Je commence à comprendre, dit le petit prince. Il y a une fleur… je crois qu'elle m'a apprivoisé…

- C'est possible, dit le renard. On voit sur la Terre toutes sortes de choses…

- Oh! ce n'est pas sur la Terre, dit le petit prince.

Le renard parut très intrigué:

- Sur une autre planète?
- Oui.
- Il y a des chasseurs sur cette planète-là?
- Non.
- Ca, c'est intéressant! Et des poules?
- Non.
- Rien n'est parfait, soupira le renard.
Mais le renard revint à son idée:

- Ma vie est monotone. Je chasse les poules, les hommes me chassent. Toutes les poules se ressemblent, et tous les hommes se ressemblent. Je m'ennuie donc un peu. Mais si tu m'apprivoises, ma vie sera comme ensoleillée. Je connaîtrai un bruit de pas qui sera différent de tous les autres. Les autres pas me font rentrer sous terre. Le tien m'appelera hors du terrier, comme une musique. Et puis regarde! Tu vois, là-bas, les champs de blé? Je ne mange pas de pain. Le blé pour moi est inutile. Les champs de blé ne me rappellent rien. Et ça, c'est triste! Mais tu a des cheveux couleur d'or. Alors ce sera merveilleux quand tu m'aura apprivoisé! Le blé, qui est doré, me fera souvenir de toi. Et j'aimerai le bruit du vent dans le blé…

Le renard se tut et regarda longtemps le petit prince:

- S'il te plaît… apprivoise-moi! dit-il.

- Je veux bien, répondit le petit prince, mais je n'ai pas beaucoup de temps. J'ai des amis à découvrir et beaucoup de choses à connaître.
- On ne connaît que les choses que l'on apprivoise, dit le renard. Les hommes n'ont plus le temps de rien connaître. Il achètent des choses toutes faites chez les marchands. Mais comme il n'existe point de marchands d'amis, les hommes n'ont plus d'amis. Si tu veux un ami, apprivoise-moi!
- Que faut-il faire? dit le petit prince.
- Il faut être très patient, répondit le renard. Tu t'assoiras d'abord un peu loin de moi, comme ça, dans l'herbe. Je te regarderai du coin de l'oeil et tu ne diras rien. Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, tu pourras t'asseoir un peu plus près…

Le lendemain revint le petit prince.

- Il eût mieux valu revenir à la même heure, dit le renard. Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai heureux. à quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai; je découvrira le prix du bonheur! Mais si tu viens n'importe quand, je ne saurai jamais à quelle heure m'habiller le coeur… il faut des rites.

- Qu'est-ce qu'un rite? dit le petit prince.
- C'est quelque chose trop oublié, dit le renard. C'est ce qui fait qu'un jour est différent des autres jours, une heure, des autres heures. Il y a un rite, par exemple, chez mes chasseurs. Ils dansent le jeudi avec les filles du village. Alors le jeudi est jour merveilleux! Je vais me promener jusqu'à la vigne. Si les chasseurs dansaient n'importe quand, les jours se ressembleraient tous, et je n'aurait point de vacances.
Ainsi le petit prince apprivoisa le renard. Et quand l'heure du départ fut proche:

- Ah! dit le renard… je preurerai.
- C'est ta faute, dit le petit prince, je ne te souhaitais point de mal, mais tu as voulu que je t'apprivoise…
- Bien sûr, dit le renard.
- Mais tu vas pleurer! dit le petit prince.
- Bien sûr, dit le renard.
- Alors tu n'y gagnes rien!
- J'y gagne, dit le renard, à cause de la couleur du blé.

Puis il ajouta:
- Va revoir les roses. Tu comprendras que la tienne est unique au monde. Tu reviendras me dire adieu, et je te ferai cadeau d'un secret.
Le petit prince s'en fut revoir les roses.

- Vous n'êtes pas du tout semblables à ma rose, vous n'êtes rien encore, leur dit-il. Personne ne vous a apprivoisé et vous n'avez apprivoisé personne. Vous êtes comme était mon renard. Ce n'était qu'un renard semblable à cent mille autres. Mais j'en ai fait mon ami, et il est maintenant unique au monde. Et les roses étaient gênées.

- Vous êtes belles mais vous êtes vides, leur dit-il encore. On ne peut pas mourir pour vous. Bien sûr, ma rose à moi, un passant ordinaire croirait qu'elle vous ressemble. Mais à elle seule elle est plus importante que vous toutes, puisque c'est elle que j'ai arrosée. Puisque c'est elle que j'ai abritée par le paravent. Puisque c'est elle dont j'ai tué les chenilles (sauf les deux ou trois pour les papillons). Puisque c'est elle que j'ai écoutée se plaindre, ou se vanter, ou même quelquefois se taire. Puisque c'est ma rose.

Et il revint vers le renard:

- Adieu, dit-il…
- Adieu, dit le renard. Voici mon secret. Il est très simple: on ne voit bien qu'avec le coeur. L'essentiel est invisible pour les yeux.

- L'essentiel est invisible pour les yeux, répéta le petit prince, afin de se souvenir.
- C'est le temps que tu a perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante.
- C'est le temps que j'ai perdu pour ma rose… fit le petit prince, afin de se souvenir.
- Les hommes on oublié cette vérité, dit le renard. Mais tu ne dois pas l'oublier. Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé. Tu es responsable de ta rose…
- Je suis responsable de ma rose… répéta le petit prince, afin de se souveni





It was then that the fox appeared.

- Good morning, said the fox.
- Good morning, the little prince responded politely, although when he turned around he saw nothing.
- I am right here, the voice said, under the apple tree.
- Who are you? You are very pretty to look at.
- I am a fox, said the fox.
- Come and play with me, proposed the little prince. I am so unhappy.
- I cannot play with you, the fox said. I am not tamed.
- Ah! Please excuse me, said the little prince.

But, after some thought, he added:

- What does that mean--
'tame'?
- You do not live here, said the fox. What is it that you are looking for?
- I am looking for men, said the little prince. What does that mean--
'tame'?
- Men, said the fox. "They have guns, and they hunt. It is very disturbing. They also raise chickens. These are their only interests.
Are you looking for chickens?
- No, said the little prince. I am looking for friends. What does that mean--
'tame'?
- It is an act too often neglected, said the fox. It means to establish ties…
- 'To establish ties'?
- Just that, said the fox. "To me, you are still nothing more than a little boy who is just like a hundred thousand other little boys. And I have no need of you. And you, on your part, have no need of me. To you, I am nothing more than a fox like a hundred thousand other foxes. But if you tame me, then we shall need each other. To me, you will be unique in all the world. To you, I shall be unique in all the
world...

- I am beginning to understand, said the little prince. There is a flower... I think that she has tamed me...

- It is possible, said the fox. On the Earth one sees all sorts of things…


- Oh, but this is not on the Earth! said the little prince.

The fox seemed perplexed, and very curious:
- On another planet?
- Yes.
- Are there hunters on this
planet?
- No.
- Ah, that is interesting! Are there chickens?
- No.
- Nothing is perfect, sighed the
fox.
But he came back to his idea:

- My life is very monotonous, the fox said. I hunt chickens; men hunt me. All the chickens are just alike, and all the men are just alike. And, in consequence, I am a little bored. But if you tame me, it will be as if the sun came to shine on my life. I shall know the sound of a step that will be different from all the others. Other steps send me hurrying back underneath the ground. Yours will call me, like music, out of my burrow. And then look: you see the grain-fields down yonder? I do not eat bread. Wheat is of no use to me. The wheat fields have nothing to say to me. And that is sad. But you have hair that is the colour of gold. Think how wonderful that will be when you have tamed me! The grain, which is also golden, will bring me back the thought of you. And I shall love to listen to the wind in the
wheat...

The fox gazed at the little prince, for a long time:

- Please-- tame me! he said.

- I want to, very much, the little prince replied. But I have not much time. I have friends to discover, and a great many things to understand.

- One only understands the things that one tames, said the fox. "Men have no more time to understand anything. They buy things all ready made at the shops. But there is no shop anywhere where one can buy friendship, and so men have no friends any more. If you want a friend, tame me...

- What must I do, to tame you? asked the little prince.
- You must be very patient, replied the fox. First you will sit down at a little distance from me-- like that-- in the grass. I shall look at you out of the corner of my eye, and you will say nothing. Words are the source of misunderstandings. But you will sit a little closer to me, every day…

The next day the little prince came back.

- It would have been better to come back at the same hour, said the fox. If, for example, you come at four o'clock in the afternoon, then at three o'clock I shall begin to be happy. I shall feel happier and happier as the hour advances. At four o'clock, I shall already be worrying and jumping about. I shall show you how happy I am! But if you come at just any time, I shall never know at what hour my heart is to be ready to greet you.. One must observe the proper rites.

- What is a rite? asked the little
prince.
- Those also are actions too often neglected, said the fox. "They are what make one day different from other days, one hour from other hours. There is a rite, for example, among my hunters. Every Thursday they dance with the village girls. So Thursday is a wonderful day for me! I can take a walk as far as the vineyards. But if the hunters danced at just any time, every day would be like every other day, and I should never have any vacation at all.
So the little prince tamed the fox. And when the hour of his departure
drew near:

- Ah, said the fox.. I shall cry.
- It is your own fault," said the little prince. I never wished you any sort of harm; but you wanted me to tame you...
- Yes, that is so, said the fox.
- But now you are going to cry! said the little prince.
- Yes, that is so, said the fox.
- Then it has done you no good at all!
- It has done me good," said the fox, because of the color of the wheat
fields.
And then he added:
- Go and look again at the roses. You will understand now that yours is unique in all the world. Then come back to say goodbye to me, and I will make you a present of a secret.

The little prince went away, to look again at the roses.

- You are not at all like my rose, he said. As yet you are nothing. No one has tamed you, and you have tamed no one. You are like my fox when I first knew him. He was only a fox like a hundred thousand other foxes. But I have made him my friend, and now he is unique in all the world. And the roses were very much embarassed.


- You are beautiful, but you are empty, he went on. One could not die for you. To be sure, an ordinary passerby would think that my rose looked just like you--the rose that belongs to me. But in herself alone she is more important than all the hundreds of you other roses: because it is she that I have watered; because it is she that I have put under the glass globe; because it is she that I have sheltered behind the screen; because it is for her that I have killed the caterpillars (except the two or three that we saved to become butterflies); because it is she that I have listened to, when she grumbled, or boasted, or ever sometimes when she said nothing. Because she is my rose.

And he went back to meet the fox.

- Goodbye, he said.
- Goodbye," said the fox. And now here is my secret, a very simple secret: It is only with the heart that one can see rightly; what is essential is invisible to
the eye.

- What is essential is invisible to the eye, the little prince repeated, so that he would be sure to remember.
- It is the time you have wasted for your rose that makes your rose so important.
- It is the time I have wasted for my rose-- said the little prince, so that he would be sure to remember.
- Men have forgotten this truth, said the fox. But you must not forget it. You become responsible, forever, for what you have tamed. You are responsible for your rose…

- I am responsible for my rose, the little prince repeated, so that he would be sure to remember.


lundi 10 septembre 2007

Enya - Only Time












Quem pode dizer
Para onde vai a estrada
Para onde o dia flui?
Só o tempo...

E quem pode dizer
Se o seu amor cresce,
Conforme seu coração escolhe?
Só o tempo...

Quem pode dizer
Porque seu coração suspira
Conforme seu amor voa?
Só o tempo...

E quem pode dizer
Porque seu coração chora,
Quando seu amor morre?
Só o tempo...

E quem pode dizer
quando o dia termina,
Se a noite guarda todo
Todo seu coração?
A noite guarda todo
seu coração...

Quem sabe?
Só o tempo...




Et qui peut dire
Si ton amour croit
Comme ton coeur l'a choisi?
Seul le temps…

Qui peut dire
Pourquoi ton coeur soupier
Comme ton amour s'envole?
Seul le temps…

Et qui peut dire
Pourquoi ton coeur pleure
Quand ton amour choie?
Seul le temps…

Qui peut dire
Où les routes se rejoignent
Cet amour est peut-être
Dans ton Coeur?

Et qui peut dire
Quand le jour dort
Si la nuit garde
Tout ton Coeur?
La nuit prend tout
ton Coeur…

Qui sait?
Seul le temps..




samedi 8 septembre 2007

Six Feet Under - Nobody Sleeps (Nessun dorma)












Que personne ne dorme!
Que personne ne dorme!
Toi aussi, Ô Princesse,
Dans ta froide chambre
Tu regardes les étoiles
Qui tremblent d'amour
et d'espérance.
Mais mon mystère
est scellé en moi,
Personne ne saura mon nom!

Non! Non!
sur ta bouche, je le dirai,
quand la lumière resplendira!
Et mon baiser
brisera le silence
Qui te fait mienne.

Personne ne saura son nom
Et nous devrons
hélas, mourir, mourir!

Dissipe-toi, Ô nuit!
Dispersez-vous, étoiles!
Dispersez-vous, étoiles!
À l'aube je vaincrai!
Je vaincrai!
Je vaincrai!

Nobody shall sleep!
Nobody shall sleep!
Even you, o Princess
in your cold room
watch the stars
that tremble with love
and with hope.
But my secret
is hidden within me
my name no one shall know!

No! No!
On your mouth, I will tell it
when the light shines.
And my kiss will
dissolve the silence
that makes you mine.

No one will know his name
and we must
alas, die.

Vanish, o night!
Set, stars!
Set, stars!
At dawn I will win!
I will win!
I will win!


vendredi 7 septembre 2007

CONTRADITÓRIA...





Por vezes tomam-me por contraditória... mas é só enquanto me conhecem pouco. Com o tempo, verifica-se que sou previsível dentro da minha imprevisibilidade... mas não esperem que isso seja um processo rápido, nem há garantias que ele vá ocorrer... Não por eu ser alguém especial e misteriosa, mas porque eu mesma não tenho controle sobre aquilo que transpareço ou oculto... Eu sou aquela que vai escorrendo como um rio, as vezes respeito suas margens, as vezes invado e inundo tudo arrastando com ferocidade qualquer coisa que estiver no caminho... Em outros momentos sou dócil e apenas condenso, viro nuvem e vou chover em outro lugar....

Laura T. K. Veltman
(em um scrap que ficou poético e veio parar aqui por acaso)



lundi 27 août 2007

JAMAIS PERMITA!

Jamais permita que alguém te escravize...
Você nasceu para ser amado e não para ser escravo.
Jamais permita que o teu coração sofra em nome do amor,
Amar é um ato de felicidade, não de sofrimento...
Jamais permita que teus olhos derramem lágrimas por alguém
Que nunca te fará sorrir...
Jamais permita que teu corpo seja usado
Ele é a morada do teu espírito, mantenha-o apreciado...
Jamais permita ficar horas a espera de alguém,
Que nunca virá,
Mesmo que tenha te prometido...

Jamais permita que teu nome seja pronunciado em vão,
Por alguém que não vale a pena...
Jamais desperdice teu tempo com alguém...
Que nunca terá tempo para você...
Jamais permita que alguém fale com você aos gritos...
Se tiver que falar...
Que seja com amor...
Jamais permita que paixões desenfreadas
te tirem do mundo real
para te fazer entrar num mundo que nunca existiu...
Jamais permita que teus pés caminhem em direção de um alguém,
Que passa o tempo todo fugindo de você...
Jamais permita que os sonhos dos outros se misturem aos seus...
Fazendo-os girar num grande pesadelo...
Jamais permita viver angustiado na dependência de alguém,
Te fazendo acreditar que você nasceu inválido e sem iniciativa...
Jamais permita que a dor, a solidão,
o ressentimento, o ciúme e o rancor, debilitem a enorme força...
Que Deus te deu...
Jamais permita perder a tua dignidade de ser você mesmo.
NÃO PERMITA JAMAIS...

"A NINGUÉM"


(autor desconhecido - agradecimento a Marcy)


dimanche 26 août 2007

FIX YOU - Coldplay












Quando você faz o seu melhor
mas não dá certo
Quando você consegue o que quer
mas não o que precisa
Quando você se sente tão cansado
mas não consegue dormir
Preso em marcha ré

Quando as lágrimas
começam a rolar pelo seu rosto
Quando você perde alguma coisa
que não pode repor
Quando você ama alguém
mas tudo acaba
Poderia ser pior que isso?

Luzes vão te guiar até em casa
E inflamar teus ossos
E eu vou tentar te consertar

E bem lá no alto
ou bem no fundo
Quando você está
apaixonada demais
pra esquecer
Mas se você nunca tentar
nunca vai saber
o quanto você vale

Luzes vão te guiar até em casa
E inflamar teus ossos
E eu vou tentar te consertar

Lágrimas rolam
pelo seu rosto
Quando você perde algo
que não pode repor
Lágrimas rolam
pelo seu rosto
E eu...

Lágrimas rolam
pelo seu rosto
Eu te prometo que
vou aprender com meus erros
Lágrimas rolam
pelo seu rosto
E eu...

E eu vou tentar te consertar.

Quand tu fais de ton mieux
mais tu n'y arrives pas
Quand tu as ce que tu veux
mais pas ce dont tu as besoin
Quand tu te sens si fatigué
mais tu ne peux pas dormir
Collé à l'envers

Et les larmes
viennes couler sur ton visage
Quand tu perd quelque chose
que tu ne peux pa remplacer
Quand tu aime quelqu'um
mais que tu te gaspilles
Est-ce que ça pourrait être pire?

Les lumières te guideront chez toi,
Et enflammeront tes os
Et j’essaierai de te préparer

En haut au dessus
ou en bas au dessous
Quand tu es
trop amoureux
pour tout laisser aller
Si tu n'essayeras jamais,
tu ne sauras jamais
Juste ce que tu vaux

Les lumières te guideront chez toi,
Et enflammeront tes os
Et j’essaierai de te préparer

Les larmes ruissellent
le long de ton visage
Lorsque tu perds quelque chose
que tu ne peux pas remplacer
Les larmes ruissellent
le long de ton visage
Et je

Les larmes ruissellent
le long de ton visage
Je te promets que
je tirerai des leçons de mes erreurs
Les larmes ruissellent
le long de ton visage
Et je

Et je vais essayer de te réparer


vendredi 24 août 2007

Quem Vai Dizer Tchau?












Quando aconteceu?
Não sei…

Quando foi que eu deixei
de te amar?
Quando a luz do poste
não acendeu?
Quando a sorte
não mais soube ganhar?

Não

Foi ontem que eu disse não
Mas quem vai dizer tchau?

Onde aconteceu?
Não sei

Onde foi que eu deixei
de te amar?
Dentro do quarto só estava eu
Dormindo antes de você chegar

Mas, não
Foi ontem que eu disse não
Mas quem vai dizer tchau?

A gente não percebe o amor
que se perde aos poucos
sem virar carinho
guardar lá dentro
o amor não impede
que ele empedre
mesmo crendo-se infinito

Tornar o amor real
é expulsá-lo de você
para que ele possa ser de alguém

Somos, se pudermos ser ainda
Fomos donos do que
hoje não há mais
Ouve o que houve
E o que escondem em vão
Os pensamentos
que preferem calar

Se não
Irá nos ferir o não,
Mas que não quer dizer tchau.


When did it happen?
I don't know…

When did I stop
loving you?
When did the light pole
didn't turn on?
When did the luck didn't
know how to win anymore?

No

It was yesterday that I said no
But who is going to say bye?

Where did it happen?
I don't know

Where did I stop
loving you?
I was the only one inside the room
Sleeping before you arrive

But, no
It was yesterday that I said no
But who is going to say bye?

We don't realise love
that slowly dissipates
without turning into care
keeping love inside
doesn't prevent
that it petrifies
even believing infinitely

Make love real is
to expel it from you
so that it can be of someone

We are, if we can still be
We were owners of
what there is no more
Listen whate happened
and what they hide in vain
The thoughts
prefer to silence

If not
It will hurt us the no,
But it doesn't mean bye.


lundi 30 juillet 2007

CONTEMPLAÇÃO SOLITÁRIA...


Sentada diante do mar as lembranças pareciam misturar-se com as minhas sensações e eu pensava em cronometrar as horas em que como ondas, sentia sua presença no ancoradouro dos meus medos, paixão e angustia.

Era doce o sentimento de deixar fluir essas ondas, permitir sua sincronização com o mar. A tarde, iluminada pelos últimos raios de sol tinha cor dourada e as janelas dos poucos edifícios da orla pareciam folhas de ouro reluzentes e eu sentia frio, porque o sol agora em declínio, iluminava, mas já não conseguia aquecer.

Olhando em volta, as pessoas caminhavam indiferentes e pareciam não perceber o frio, talvez porque era apenas meu. Era interno e vinha do vazio, da saudade, da ausência e do medo de amanhã não poder se chamar futuro, porque no presente os sonhos do passado estavam destruídos e os estilhaços daquilo que construímos quando não atingiam meu coração fazendo-lhe cortes profundos, eu os ouvia sibilar furiosos, como quem lamenta o desperdício pelo erro do alvo.

Queria chorar, esquecer, implodir, explodir, tornar-me irremediavelmente louca, histérica, passional, mas tudo se tornou inútil, óbvio, pouco e sem sentido. Sentia que mais nada restava além da esperança que se alimentava da ausência de certezas, mas nenhuma dúvida sobrevive ao tempo ali diante do mar para onde voltei várias vezes por ele esperando.

Estou estática, como uma marionete que perde os fios e tomba desengonçada no palco. A vertigem, o som oco da madeira tocando a madeira e os fios caindo suaves por sobre o monte de mim mesma.

Mas como podem esses fios agora frouxos, frágeis serem os únicos responsáveis pelo que antes saltitava imponente e feliz? É o paradoxo da bactéria, do invisível capaz. A contaminação silenciosa e traiçoeira da bactéria e depois os sintomas, a prostração, o desânimo. A vida que largada no leito com dificuldade respira e dentro dela a bactéria multiplica-se e preparar-se para o próximo contágio.

Você chegou e as bactérias pressentiram-no novo hospedeiro, elas querem culpar-me pela provável contaminação, mas eu não quero que elas saiam do meu corpo para o seu, que é meu, como agora sou da bactéria e você não sabe, não entende. Não quer ver que pode curar-me desse resfriado.

Fecho os olhos para que sua imagem anterior retorne a minha memória. A sua imagem doce, suave, protetora, pagã, sutil e vou me entregando aos poucos e sem volta. Calma, estou indo, vou deixar que me devore insano. Vou permitir a saída das bactérias e você vai adoecer comigo. Vai delirar e arder, porque tudo é inútil.

Você me liberta, mas eu não o liberto e as bactérias tiram nossas forças.

Venha agora meu amor, para o leito das bactérias enlouquecidas e insaciáveis. Venha deitar-se ao meu lado e deixe-me repousar quietinha em seu peito. Quero ouvir seu coração bater. Isso me acalma e esvazia do que é inútil.

Minha vida inteira foi sua, mesmo antes de haver chegado. Era por sua doçura que minha alma ansiava inquieta. Por você caminhei pela vida recebendo um amor que nunca podia dar. Nada era meu, antes da sua chegada, mas quando você chegou, eu quis matá-lo em mim, porque tive medo, medo de possuir o que já não podia perder.

Tudo quer separar-nos. Tudo respira a vingança das nossas febres, mas foi em seu leito que me sentir morrer pela primeira vez e no dia seguinte eu estava mais viva do que para mim compreensível. Depois de morrer nada mais interessa, nada que esta na vida anterior importa e quando acordei para essa nova existência, já não possuía meu antigo corpo. Tornei-me uma espécie de extensão do seu e nos movimentávamos uníssonos em melodias variadas.

Sim, estava dentro de você o meu lar e você estava dentro de mim. Éramos os avesso do avesso, a borda virada no vestido dos meus 15 anos, tempo em o chamava de príncipe e tempos depois de vampiro.

Sonhava as vezes voando em seus braços como caça rendida, mas você inexplicavelmente temia minha rendição e oscilava a força com que comprimia meu corpo ao seu em nosso vôo. Talvez você pressentisse perigo, já eu não tinha nada mais a perder além da nova vida que me era oferecida ali e nela, não há sentido para o medo ou a morte.


Laura T.K.V.





vendredi 27 juillet 2007

CINDERELA SEC XXI


Era uma vez… numa terra muito distante...uma princesa linda,independente e cheia de auto-estima que se deparou com uma rã, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas.

Então a rã pulou para seu colo e disse:

– Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo.

A tua mãe poderia vir morar conosco, tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre.

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à «sautée», acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:

«NEM MORTA!!!»






jeudi 19 juillet 2007

Feminilidades...


Apesar de sempre defender as mulheres, jamais me declarei feminista. Para mim a "revolução sexual" deveria ter sido feita nos homens, eles deveriam aprender o significado de "pertencer" antes de tomar a 1ª garrafa de vinho.

Eu gosto e tenho orgulho de ser feminina. De não ter medo dos meus medos, de sonhar com príncipe encantado, vampiros sensuais ou um confortável companheiro para fazer os mesmo planos de futuro.

Não vejo problema algum em assumir-me mulher, doce, feminina... que chora vendo filmes romântico e sorrir de piadas tolas.

Não quero "concorrer" com homem algum. Quero apenas superar-me todos os dias e ser importante apenas para UM deles.

Não há fragilidade em mim nem acima, nem abaixo do meu sexo. A fragilidade feminina não é da alma, não é do corpo, não a torna mais burra ou inteligente. É uma fragilidade que só aquelas que se orgulham de possuir, sabe a força que tem...

Poucas vezes aceitei um NÃO da vida, mas também poucas vezes precisei perder a ternura para obter o que desejava.

Eu transito muito a vontade entre todos os istas porque eu só tenho O MEU LADO, e ele se move de acordo com cada situação, não com oportunismo ou como a seta de carro, mas para onde o meu racional aponta... portanto, ter um “partido político” nesse sistema medieval de vida em que sou obrigada a viver, é para mim tão difícil quanto possuir uma religião ou um deus. Por tudo isso é que talvez, os "ismos" e "istas" encham-me de mais de tédio, que de fúria.



Laura T.K.V.


dimanche 15 juillet 2007

O tempo que nos resta...


De súbito sabemos que é já tarde.

Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas e o sangue que tínhamos não arde como ardia, sabemos que viemos e que vamos. Que não será aqui a nossa festa.

De súbito chegamos a saber que andávamos sozinhos. De súbito vemos sem sombra alguma que não existe aquilo em que nos apoiávamos. A solidão deixou de ser um nome apenas. Tocamo-la, empurra-nos e agride-nos. Dói. Dói tanto! E parece-nos que há um mundo inteiro a gritar de dor, e que à nossa volta quase todos sofrem e são sós.

Temos de ter, necessariamente, uma alma. Se não, onde se alojaria este frio que não está no corpo?

Rimos e sabemos que não é verdade. Falamos e sabemos que não somos nós quem fala. Já não acreditamos naquilo que todos dizem. Os jornais caem-nos das mãos. Sabemos que aquilo que todos fazem conduz ao vazio que todos têm.

Poderíamos continuar adormecidos, distraídos, entretidos. Como os outros. Mas naquele momento vemos com clareza que tudo terá de ser diferente. Que teremos de fazer qualquer coisa semelhante a levantarmo-nos de um charco. Qualquer coisa como empreender uma viagem até ao castelo distante onde temos uma herança de nobreza a receber.

O tempo que nos resta é de aventura. E temos de andar depressa. Não sabemos se esse tempo que ainda temos é bastante.

E de súbito descobrimos que temos de escolher aquilo que antes havíamos desprezado. Há uma imensa fome de verdade a gritar sem ruído, uma vontade grande de não mais ter medo, o reconhecimento de que é preciso baixar a fronte e pedir ajuda. E perguntar o caminho.

Ficamos a saber que pouco se aproveita de tudo o que fizemos, de tudo o que nos deram, de tudo o que conseguimos. E há um poema, que devíamos ter dito e não dissemos, a morder a recordação dos nossos gestos. As mãos, vazias, tristemente caídas ao longo do corpo. Mãos talvez sujas. Sujas talvez de dores alheias.

E o fundo de nós vomita para diante do nosso olhar aquelas coisas que fizemos e tínhamos tentado esquecer. São, algumas delas, figuras monstruosas, muito negras, que se agitam numa dança animalesca. Não as queremos, mas estão cá dentro. São obra nossa.

Detestarmo-nos a nós mesmos é bastante mais fácil do que parece, mas sabemos que também isso é um ponto da viagem e que não nos podemos deter aí.

Agora o tempo que nos resta deve ser povoado de espingardas. Lutar contra nós mesmos era o que devíamos ter aprendido desde o início. Todo o tempo deve ser agora de coragem. De combate. Os nossos direitos, o conforto e a segurança? Deixem-nos rir... Já não caímos nisso! Doravante o tempo é de buscar deveres dos bons. De complicar a vida. De dar até que comece a doer-nos.

E, depois, continuar até que doa mais. Até que doa tudo. Não queremos perder nem mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um instante do tempo que nos resta.

(Paulo Geraldo)


samedi 14 juillet 2007

PADAUNG


Às vezes batia repentino o desejo de voltar. Quase uma saudade de si mesma, se não soubesse que ainda aos trancos é melhor que naqueles tempos. Nada contra o passado - como Elas pensavam. Só a alegria íntima de ter deixado tanto para trás, uma leve tristeza pelas pessoas que não deviam estar lá e ficaram.

Pode parecer estranha a vontade, o movimento de volta àquelas ruas empoeiradas - perto de casa, longe do agora. Vez por outra vinha, evocando antiguidades. Açucarada pela ilusão de haver alguém capazes de perceber entre a mudança o que permanecera que ela tinha seguido o sonho sem trair o espírito.

Poucas sabiam. E entre elas, umas que jamais se permitiram, ou já tinham desistido - não a perdoavam. Acusações rompantes, questionamentos deslocados.Você é tão normal quanto todas nós. Decretavam. Talvez, se Elas fossem normais. Não eram antes. Caso tenham se tornado, foi na marra, acreditando que amadurecer tinha a ver com se enquadrar. Ó engano!

O problema não era normalidade superficial. Era perder a alma. Compactuar com os joguinhos, se fazer de burra, de santa. Abrir mão em si pelo que se poderia chamar relação. Era o que Elas topavam em troca de "um homem pra chamar de seu, mesmo que seja"...

E a questão não era se rebelar contra sociedade, instituições, os homens. Nunca foi. Era não entrar na cena. Rejeitar migalhas, honrar o útero. Era inventar vida própria, construir independência, laços sinceros, arriscar pretensões de liberdade. Vivê-la pelo ladidentro, e tentá-la do ladifora. Batalha de sutilezas.

Do tempo, ela aprendera que esta verdade era sua. Tocava nos assunto às vezes, lendo o estranhamento. Suas idéias não eram mais da ordem daquele mundo

Obedecia ao desejo de voltar. Certa vertigem - o reconhecimento do espaço, a circularidade do tempo. A diferença," Você não cabe, Você não sabe" Elas repetiam. Despegada daquela vida que queria tanto abandonar, um prazer silencioso, um não-pertencimento quase solitário.

Partira. Vez por outra era possível passar somente, sem abrigo. Talvez a ilusão movesse a vontade. Um desejo inocente de mundo conhecido em tempos em que cada passo era incerto. Não era mais possível. Desfizera as amarras daquele pensar e agir. E fingir aceitar velhas regras causava nojo. Não sentia melhor que Elas, dona de sabedorias outras. Respeitava-as por tudo o que representaram em seu caminho.

Tinha descomposto Nós e encontrado o outro lado da Noite.


Padaung é uma tribo indígena em Mianmar conhecida pela tradição de enfeitar as mulheres desde a infância colocando anéis de metal no pescoço esticando as vértebras e sustentando a cervical. Conhecidas como mulheres-girafa, algumas chegam a quase 30 cm de pescoço e quanto mais longo, mais bela é considerada a mulher.


Fonte: A Leveza do Ser



vendredi 13 juillet 2007

Opera Turandot de Puccini


Turandot narra a história do príncipe Calaf, da princesa Turandot (filha do imperador) e Liu (escrava). A princesa, por vingança de estrangeiros terem matado uma de suas ancestrais, não quer saber de se apaixonar e propõe que aquele que desejar desposá-la deverá responder 3 enigmas. Quem não conseguir será morto e terá a cabeça exposta sobre a muralha. Surge Calaf, um príncipe desconhecido que se apaixona por Turandot e acerta os três enigmas contrariando a princesa.

Calaf e Turandot ficam sozinhos. Ele abraça a gélida princesa, que ao receber seu beijo se transforma, confessando-lhe que o odiara e o amara desde o começo. Calaf diz-lhe o próprio nome, para testar este amor. Se ela quiser, está livre para executá-lo.

Turandot conta ao pai que já sabe o nome do desconhecido príncipe. Ela deve agora pronunciá-lo ou casar-se, e as pessoas reunidas acreditam que ele será condenado à morte. Turandot olha para Calaf e, subjugada pela descoberta do amor, diz que o nome dele é "AMOR"! Calaf abraça-a apaixonadamente, enquanto a multidão, alegre, canta.





FONTE: Banana&Etc




jeudi 12 juillet 2007

A menor mulher do mundo

Nas profundezas da África Equatorial o explorador francês Marcel Pretre, caçador e homem do mundo, topou com uma tribo de pigmeus de uma pequenez surpreendente. Mais surpreso, pois, ficou ao ser informado de que menor povo ainda existia além de florestas e distâncias. Então mais fundo ele foi.

No Congo Central descobriu realmente os menores pigmeus do mundo. E - como uma caixa dentro de uma caixa, dentro de uma caixa - entre os menores pigmeus do mundo estava o menor dos menores pigmeus do mundo, obedecendo talvez à necessidade que às vezes a natureza tem de exceder a si própria.

Entre mosquitos e árvores mornas de umidade, entre as folhas ricas do verde mais preguiçoso, Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de 45 centímetros, madura, negra, calada. "Escura como um macaco", informaria ele à imprensa, e que vivia no topo de uma árvore com seu pequeno concubino. Nos tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes dão uma quase intolerável doçura ao paladar, ela estava grávida.

Ali em pé estava, portanto, a menor mulher do mundo. Por um instante, no zumbido do calor, foi como se o francês tivesse inesperadamente chegado à conclusão última. Na certa, apenas por não ser louco, é que sua alma não desvairou nem perdeu os limites. Sentindo necessidade imediata de ordem, e de dar nome ao que existe, apelidou-a de Pequena Flor. E, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a colher dados a seu respeito.

Sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada. Poucos exemplares humanos restam dessa espécie que, não fosse o sonso perigo da África, seria povo alastrado. Fora doença, infectado hálito de águas, comida deficiente e feras rondantes, o grande risco para os escasos likoualas está nos selvagens bantus, ameaça que os rodeia em ar silencioso como em madrugada de batalha. Os bantus os caçam em redes, como fazem com os macacos. E os comem. Assim: caçam-nos em redes e os comem. A racinha de gente, sempre a recuar e a recuar, terminou aquarteirando-se no coração da África, onde o explorador afortunado a descobriria. Por defesa estratégica, moram nas árvores mais altas. De onde as mulheres descem para cozinhar milho, moer mandioca e colher verduras; os homens, para caçar. Quando um filho nasce, a liberdade lhe é dada quase que imediatamente. É verdade que muitas vezes a criança não usufruirá por muito tempo dessa liberdade entre feras. Mas é verdade que, pelo menos, não se lamentará que, para tão curta vida, longo tenha sido o trabalho. Pois mesmo a linguagem que a criança aprende é breve e simples, apenas essencial. Os likoualas usam poucos nomes, chamam as coisas por gestos e sons animais. Como avanço espiritual, têm um tambor. Enquanto dançam ao som do tambor, uma machado pequeno fica de guarda contra os bantus, que virão não se sabe de onde.

Foi, pois, assim que o explorador descobriu, toda em pé e a seus pés, a coisa humana menor que existe. Seu coração bateu porque esmeralda nenhuma é tão rara. Nem os ensinamentos dos sábios da Índia são tão raros. Nem o homem mais rico do mundo já pôs olhos sobre tanta estranha graça. Ali estava uma mulher que a gulodice do mais fino sonho jamais pudera imaginar. Foi então que o explorador disse timidamente e com uma delicadeza de sentimentos de que sua esposa jamais o julgaria capaz:

- Você é Pequena Flor.



LISPECTOR, Clarice. A menor mulher do mundo.
Laços de Família. São Paulo: coedição da Livraria José Olympio Editora, Editora Civilização Brasileira e Editora Três, 1974. (Coleção Literatura Brasileira Contemporânea) pp 70-77. 140 pp.





Portas e Janelas


Sim, eu o mataria um pouco aquela noite, só um pouco pensei ingênua e com a esperança dos crédulos inexperientes me impulsionando por dentro. Era óbvio que eu sangrava, que doía, mas onde fica a parte que isso importa?

Mais um pouco pensei e parecia simples pensar assim. Então senti algo escorrer quente e úmido por entre meus dedos. Lembrei de como fora fácil chegar até ali, portanto, as portas de saída não estavam longe. Aquilo não era um labirinto, não eram essas as lembranças. Em minhas recordações havia muitas portas e janelas pelo caminho e através delas, eu via o mundo externo e acessível.

Porém agora, todos os cômodos pareciam sem oxigênio e respirar era urgente, mas eu queria matá-lo mais um pouco antes de percorrer a possibilidade das portas e janelas abertas. Pensando assim, o pressionei repetidas vezes, sentindo como era quente e úmido fazer aquilo.

Eu precisava de mais ar, mais densidade e força. Necessitava feri-lo na mesma proporção da náusea e da dor. Talvez em algum momento eu o ouvi murmurar algo, mas era impossível, não havia mais aqueles fios com poder transformadores de realidade clássica e cuidadosamente planejados para confundir e ampliar as sensações do impossível.

Sim, era urgente respirar, era urgente sair, mas também era urgente ficar e ter esperanças, mas tudo que eu precisava naquele momento era sentir nele um pouco de abismo e vê-lo perder aquela sensação de conforto, de plenitude, confiança e êxtase.

Ele era o retorno, a sensação de lar, por isso eu tentei matá-lo um pouco. Não era apenas por minha respiração suspensa ou pelo que conseguia ver através das janelas transparentes, mas eu queria perder o caminho de volta e pelo menos daquela vez, ter a ilusão de um eterno irreversível.


Laura T.K.V.