lundi 30 juillet 2007
CONTEMPLAÇÃO SOLITÁRIA...
Sentada diante do mar as lembranças pareciam misturar-se com as minhas sensações e eu pensava em cronometrar as horas em que como ondas, sentia sua presença no ancoradouro dos meus medos, paixão e angustia.
Era doce o sentimento de deixar fluir essas ondas, permitir sua sincronização com o mar. A tarde, iluminada pelos últimos raios de sol tinha cor dourada e as janelas dos poucos edifícios da orla pareciam folhas de ouro reluzentes e eu sentia frio, porque o sol agora em declínio, iluminava, mas já não conseguia aquecer.
Olhando em volta, as pessoas caminhavam indiferentes e pareciam não perceber o frio, talvez porque era apenas meu. Era interno e vinha do vazio, da saudade, da ausência e do medo de amanhã não poder se chamar futuro, porque no presente os sonhos do passado estavam destruídos e os estilhaços daquilo que construímos quando não atingiam meu coração fazendo-lhe cortes profundos, eu os ouvia sibilar furiosos, como quem lamenta o desperdício pelo erro do alvo.
Queria chorar, esquecer, implodir, explodir, tornar-me irremediavelmente louca, histérica, passional, mas tudo se tornou inútil, óbvio, pouco e sem sentido. Sentia que mais nada restava além da esperança que se alimentava da ausência de certezas, mas nenhuma dúvida sobrevive ao tempo ali diante do mar para onde voltei várias vezes por ele esperando.
Estou estática, como uma marionete que perde os fios e tomba desengonçada no palco. A vertigem, o som oco da madeira tocando a madeira e os fios caindo suaves por sobre o monte de mim mesma.
Mas como podem esses fios agora frouxos, frágeis serem os únicos responsáveis pelo que antes saltitava imponente e feliz? É o paradoxo da bactéria, do invisível capaz. A contaminação silenciosa e traiçoeira da bactéria e depois os sintomas, a prostração, o desânimo. A vida que largada no leito com dificuldade respira e dentro dela a bactéria multiplica-se e preparar-se para o próximo contágio.
Você chegou e as bactérias pressentiram-no novo hospedeiro, elas querem culpar-me pela provável contaminação, mas eu não quero que elas saiam do meu corpo para o seu, que é meu, como agora sou da bactéria e você não sabe, não entende. Não quer ver que pode curar-me desse resfriado.
Fecho os olhos para que sua imagem anterior retorne a minha memória. A sua imagem doce, suave, protetora, pagã, sutil e vou me entregando aos poucos e sem volta. Calma, estou indo, vou deixar que me devore insano. Vou permitir a saída das bactérias e você vai adoecer comigo. Vai delirar e arder, porque tudo é inútil.
Você me liberta, mas eu não o liberto e as bactérias tiram nossas forças.
Venha agora meu amor, para o leito das bactérias enlouquecidas e insaciáveis. Venha deitar-se ao meu lado e deixe-me repousar quietinha em seu peito. Quero ouvir seu coração bater. Isso me acalma e esvazia do que é inútil.
Minha vida inteira foi sua, mesmo antes de haver chegado. Era por sua doçura que minha alma ansiava inquieta. Por você caminhei pela vida recebendo um amor que nunca podia dar. Nada era meu, antes da sua chegada, mas quando você chegou, eu quis matá-lo em mim, porque tive medo, medo de possuir o que já não podia perder.
Tudo quer separar-nos. Tudo respira a vingança das nossas febres, mas foi em seu leito que me sentir morrer pela primeira vez e no dia seguinte eu estava mais viva do que para mim compreensível. Depois de morrer nada mais interessa, nada que esta na vida anterior importa e quando acordei para essa nova existência, já não possuía meu antigo corpo. Tornei-me uma espécie de extensão do seu e nos movimentávamos uníssonos em melodias variadas.
Sim, estava dentro de você o meu lar e você estava dentro de mim. Éramos os avesso do avesso, a borda virada no vestido dos meus 15 anos, tempo em o chamava de príncipe e tempos depois de vampiro.
Sonhava as vezes voando em seus braços como caça rendida, mas você inexplicavelmente temia minha rendição e oscilava a força com que comprimia meu corpo ao seu em nosso vôo. Talvez você pressentisse perigo, já eu não tinha nada mais a perder além da nova vida que me era oferecida ali e nela, não há sentido para o medo ou a morte.
Laura T.K.V.
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2 commentaires:
olá!
acabei achando seu blog por causa do meu texto que você postou aqui. Obrigada por ter dado meus créditos. Coloquei um link pour sa 'vie intime' lá no Leveza.
Gostei da sua imagem da marionete - há dias em que tenho a sensação de que arrebentam meus fios...
beijo
Obriga Stephanie, pela visita e por adicionar meu blog.
Bisous
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