samedi 14 juillet 2007
PADAUNG
Às vezes batia repentino o desejo de voltar. Quase uma saudade de si mesma, se não soubesse que ainda aos trancos é melhor que naqueles tempos. Nada contra o passado - como Elas pensavam. Só a alegria íntima de ter deixado tanto para trás, uma leve tristeza pelas pessoas que não deviam estar lá e ficaram.
Pode parecer estranha a vontade, o movimento de volta àquelas ruas empoeiradas - perto de casa, longe do agora. Vez por outra vinha, evocando antiguidades. Açucarada pela ilusão de haver alguém capazes de perceber entre a mudança o que permanecera que ela tinha seguido o sonho sem trair o espírito.
Poucas sabiam. E entre elas, umas que jamais se permitiram, ou já tinham desistido - não a perdoavam. Acusações rompantes, questionamentos deslocados.Você é tão normal quanto todas nós. Decretavam. Talvez, se Elas fossem normais. Não eram antes. Caso tenham se tornado, foi na marra, acreditando que amadurecer tinha a ver com se enquadrar. Ó engano!
O problema não era normalidade superficial. Era perder a alma. Compactuar com os joguinhos, se fazer de burra, de santa. Abrir mão em si pelo que se poderia chamar relação. Era o que Elas topavam em troca de "um homem pra chamar de seu, mesmo que seja"...
E a questão não era se rebelar contra sociedade, instituições, os homens. Nunca foi. Era não entrar na cena. Rejeitar migalhas, honrar o útero. Era inventar vida própria, construir independência, laços sinceros, arriscar pretensões de liberdade. Vivê-la pelo ladidentro, e tentá-la do ladifora. Batalha de sutilezas.
Do tempo, ela aprendera que esta verdade era sua. Tocava nos assunto às vezes, lendo o estranhamento. Suas idéias não eram mais da ordem daquele mundo
Obedecia ao desejo de voltar. Certa vertigem - o reconhecimento do espaço, a circularidade do tempo. A diferença," Você não cabe, Você não sabe" Elas repetiam. Despegada daquela vida que queria tanto abandonar, um prazer silencioso, um não-pertencimento quase solitário.
Partira. Vez por outra era possível passar somente, sem abrigo. Talvez a ilusão movesse a vontade. Um desejo inocente de mundo conhecido em tempos em que cada passo era incerto. Não era mais possível. Desfizera as amarras daquele pensar e agir. E fingir aceitar velhas regras causava nojo. Não sentia melhor que Elas, dona de sabedorias outras. Respeitava-as por tudo o que representaram em seu caminho.
Tinha descomposto Nós e encontrado o outro lado da Noite.
Padaung é uma tribo indígena em Mianmar conhecida pela tradição de enfeitar as mulheres desde a infância colocando anéis de metal no pescoço esticando as vértebras e sustentando a cervical. Conhecidas como mulheres-girafa, algumas chegam a quase 30 cm de pescoço e quanto mais longo, mais bela é considerada a mulher.
Fonte: A Leveza do Ser
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1 commentaire:
adorei!
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